I. O chamado

Embora houvesse acabado de receber um poderosíssimo golpe por parte de Pégaso, Keto mostrou-se não estar desatento depois do erro cometido ao lançar em meio aos dois cavaleiros e defendeu a Corrente Nebulosa de Mardico. Mesmo que a técnica tivesse sido desferida com maestria por parte do cavaleiro de bronze, Keto levantou-se rapidamente do chão para se defender do golpe das correntes.
Keto, com um sorriso cerrado em seu rosto, criando uma expressão tenebrosa que se acentuava em seu rosto por conta da desfiguração causada no passado pelos marinas de Poseidon, após defender-se proferiu:
- Só isso que pode fazer, Andrômeda? Nos dar licença para que possamos travar uma verdadeira batalha, terá de fazer melhor se quiser me vencer! Agora suma da minha frente, Força Explosiva de Kaitos!
No momento que disse suas palavras partiu para cima de Mardico de Andrômeda para tentar arremessa-lo para cima e em sua queda desferir um poderoso gancho na queda do oponente.

Novamente acertado pelos golpes de Pégaso, Keto começara a perceber que sua deficiência resultante de seu confronto com os marinas de Poseidon estava criando brechas para que seus inimigos o atacassem com mais facilidade. Como seria possível um cavaleiro de prata como ele ser atingido duas vezes pela mesma técnica, pensava o cavaleiro de baleia, precisava tomar mais cuidado ou seria ele a não provar sua honra. Keto, então, passou a ficar nervoso com a situação e voltou-se para Belerofonte e disse:
-Pégaso, você está demonstrando ser um cavaleiro formidável, voltarei-me contra ti nesse momento. Vamos ver se você provará seu valor e poderá me acompanhar na empreitada requisitada por Athena. Não pegarei leve, sinta o poder deste monstro marinho!
Proferindo suas palavras, o cavaleiro de prata investiu contra o Belerofonte reunindo energias e ao alcança-lo lançou sua técnica novamente.
-Força Explosiva de Kaitos!

Após a terrível falha, Keto foi atingido por um rápido contra-ataque por parte de Belerofonte, o cavaleiro não mediu esforços para conter seu oponente, levando-o ao chão. O cavaleiro de baleia caído ao chão ferido e incapacitado, com esforço pôs-se de pé novamente para enfrentar seus oponentes, parece que sua presunção e fúria cega se voltaram contra ele, o Baleia acabará ferido após subestimar dois companheiros de bronze. Sua força de vontade, diferente de sua integridade física, não estava abalada, ele não poderia perder sua chance de demonstrar ao Grande Mestre Anfiarau que possuía condições de partir em mais uma jornada contra Poseidon e ter sua vingança. Então, com muito esforço foi de encontro ao Pégaso e, num súbito, como um trovão uma voz eclodiu pelos ares da arena de treinamento do Santuário de Athena.
-Acabou, Keto, você perdeu. Já tive o suficiente, poupemos nossas forças contra nosso real inimigo, o deus Imperador do Mares Poseidon. Você me decepcionou, Keto, não pelo seu resultado, mas por sua presunção e o ódio que está alimentando dentro de você, esse sentimento não tem espaço no reino de Athena – Keto, em uma tentativa vã tentou explicar-se, mas logo teve sua fala cortada pelo Grande Mestre – você apenas demonstrou que você é quem não está preparado para a missão que fora designada, por esse motivo, você não partirá junto de Belerofonte e Mardico. Pois, bem, soldados de bronze, descansem e recuperem seus ferimentos, vocês devem partir daqui dois dias para o Cabo Sunion.
Keto que com esforço havia se colocado de pé, não ousou reverenciar o Grande Mestre senão apenas inclinando seu tronco em sua direção. Anfiarau que se mantinha o topo da escadaria que cortava os degraus de assento, observava os guerreiros com os olhos cerrados, até que se virou, voltando-se pelo caminho que havia tomado anteriormente em direção ao longo percurso até a sala do Grande Mestre.
Dois dias se passaram, ambos cavaleiros de bronze descansaram e tiveram suas escoriações recuperadas, por sorte não haviam se ferido durante a batalha contra Keto de Baleia, enquanto este, não se houve nenhuma notícia relevante em meio aos acontecimentos rotineiros do Santuário de Athena. Como ordenado pelo Grande Mestre, Belerofonte e Mardico partiram em direção ao Cabo Sunion, levando um dia e uma noite para chegarem até o destino, alcançando o local pela manhã. Durante todo o percurso do Santuário até o vilarejo não pode ser notado nada de estranho ou diferente, parecendo que o exército de Poseidon ainda não havia aportado naquelas terras e, embora já estivessem em território grego, não estavam tão próximos do recanto da deusa. Ao chegarem no Cabo Sunion, nada também se demonstrava fora do normal, a vila ficava no sopé da elevação do precipício em que se localizava um templo de Poseidon, este que podia ser visto desde longe antes de se chegar à vila, as numerosas casas se dispunham ao longo da margem do mar, com muitos cais de madeira que saltavam da terra ao mar para aportarem os navios e barcos. Por ser uma vila portuário acabava reunindo muitas pessoas fazendo com que tivesse um grande número demográfico.
A primeira vista, Cabo Sunion ainda se mantinha fiel à deusa Athena, nada fora do comum, a paz e o silêncio reinava no local.

Nas ruas do Cabo Sunion a calmaria continuava presente como uma névoa que cobria a cidade. O vilarejo mais parecia um emaranhado de casas e edificações, no entanto, da entrada da cidade onde os cavaleiros se encontravam se estendia uma longa via que descia paralelamente com a inclinação do monte, e fazia seu trajeto em uma linha curvada. A sua direita havia edifícios e, também a sua esquerda, em sua maioria possuíam dois andares, enquanto no primeiro havia uma singela porta e janela e uma escadaria de acesso ao segundo andar, outros edifícios diferenciando-se não tinham essa divisão, sendo do mesmo tamanho mas apresentando sua entrada mais larga e janelas ao alto, enquanto seus telhados possuíam abóbodas que sobressaíam da estrutura, não retas como as demais. Além também de algumas barracas aparentemente de vendas que dividiam espaço com as casas na rua. Com as ruas vazias era possível os olhos afincarem a vista até o seu fim, notando uma via de acesso quase em seu fim que a priori parecia subir em direção ao templo encontrado na beira do precipício.

Mardico ficando para trás, não percebeu que a cidade estava vazia e se encontrava em completo silêncio, assim toda a tentativa de conseguir contato com alguém fora em vão. Belerofonte, por sua vez, que havia se direcionado aos portos na margem da casa, teve de passar pelo amontoado de casas, destas não aparentavam qualquer sinal de vida e foi possível ver até mesmo uma casa com a porta entreaberta, mas sem aparentar haver alguém dentro. Ao chegar nos diversos cais na margem do mar, onde as edificações que aparentavam abrigar muitas pessoas acabavam, e não foi possível encontrar qualquer barco em toda sua extensão.

No momento em que Pégaso retornava dos portos em direção ao santuário existente na colina da cidade, passando pelas estreitas vielas que se abriam de uma casa a outra, se deparou com uma figura que tentava locomover-se entre os lares gregos sorrateiramente. No entanto, o vulto que de maneira silenciosa se movia entre as sombras projetadas pelas casas, também notou o encontro com Belerofonte. Era uma garota, aparentando ter em torno de onze anos de trajes de linho sujo e respingado com sangue, pequena e tão frágil que aparentava que qualquer choque contra seu corpo a despedaçaria por completo. Ao perceber que alguém a havia encontrado, sua cabeça girou lentamente para ver o que a espreitava, seus olhos se arregalaram de medo e a expressão de paúra era visível a metros de distância. Por alguns instantes seu sangue havia congelando-a no local, mantendo-se paralisada por alguns segundos, até que soltou um berro de medo com toda sua força e pôs-se a correr em direção à via principal que se estendia por todo vilarejo.
A pequena garota que havia se espantado com o cavaleiro de Pégaso havia chegado à via principal do vilarejo e, para sua surpresa, também se deparou com Mardico de Andrômeda próximo a ela. Como se estivesse desesperada, se jogo ao chão sem esperança – Por favor, não me machuquem... por favor! – dizia a menina em prantos enquanto se recolhia ao chão em posição fetal, levantando seu braço esquerdo em frente ao seu rosto como se estivesse se protegendo de algo. Nesse momento, Belerofonte com sua habilidade de percepção, passou a perceber focos de cosmo espalhados na cidade se manifestarem e irem ao encontro da garota na artéria do vilarejo.

Com o movimento brusco de Belerofonte, a garota que demonstrava estar completamente assustada não hesitou em gritar e se debater tentando se soltar do apanhe do cavaleiro. Porém, toda a tentativa de se soltar foi em vão, Pégaso mostrou possuir uma força muito maior que a da pequena garota. Indo para dentro de uma casa que estava mais próximo dos dois.
A casa que ambos entraram era simples, pela porta da frente já dava em uma cozinha toda pintada de branca com uma mesa de madeira no centro cercada de seis cadeiras, atrás havia uma singela lareira de barro e um tapete estendido a sua frente, entre a mesa e a lareira. Em cima da mesa havia três pratos ainda com mingau ainda frescos. Ao lado direito da entrada era possível notar uma passagem que dava para os demais cômodos da casa. E ali se tentou se esconder com a garota que não parava de gritar e chorar.
Enquanto isso, os cosmos se aproximavam cada vez mais, sendo agora possível notar que se tratavam de seis cosmos agressivos que rapidamente se moviam ao local onde os três estavam. Até que chegaram, eram seis guerreiros marinas que aparentavam ser de baixo escalão, pois suas armaduras não reluziam, mas possuíam uma coloração escura e sem brilho, além do cosmo, que agora se tornava perceptivo para Mardico, não parecia pertencer aos guerreiros que as histórias contadas descreviam.
Os marinas toparam de pronto com o cavaleiro de Andrômeda que estava na via principal do vilarejo. Todos risonhos, os guerreiros de Poseidon não demonstravam qualquer intimidação pela presença dos cavaleiros e sequer se interessaram em entrar em qualquer formação de batalha. Então, um destes se moveu em direção de Mardico.
-Ora, ora... Vejam só! Cavaleiros de Athena no Cabo Sunion, me diga, onde estavam todo esse tempo, pensei que o trabalho de vocês era defender os humanos de qualquer perigo. Sinto-lhe informar, mas chegaram tarde demais, continuamos aqui apenas para finalizar nossa missão e enviar todos os indivíduos desse vilarejo para Hades. O Imperador dos Mares, Poseidon abençoou e providenciou alimento para estes ingratos por muito tempo, e quando chegou a hora de retribuírem, preferiram ficar ao lado de uma deusa que afirmam ter a proteção, mas quando mais precisaram, ela não estava aqui para defende-los. Provavelmente há alguém junto da garota, pois ela não para de gritar nem um momento, foi muito fácil encontrar vocês. Vamos fazer um acordo, vocês me entregam ela e deixo qualquer cavaleiro que aqui se encontre voltar com vida e avisar que não há escapatório para Athena, para que ela se entregue. O que acham?